Poesias (Poetries)

PRÉVIA DE UM LIVRO (EM PROGRESSO) DE POEMAS DE AMOR 


© 2015 Wilson Filho



Ode aos seus cabelos
© 2009 Wilson Filho
(28 de Junho de 2009).

De pedras borboleta incrustada,
A presilha o penteado molda,
Em modo ou moda que ao meu olho encanta,
Lisura de lagoa espelhada.

Seduz, atrai, deslumbra-me e fascina,
Seu cabelo, se o vejo em fitas
Ou solto quando o vento eólo embala,
Versátil como um fá de Palestrina.

Castanhos, de um escuro quase preto,
Cuja franja ajeita ela de lado,
E um perfume o seu ar imanta,
O qual do árduo esforço faz um sueto.

Tão livres quando eu a esmo flano,
Emolduram, desse modo, o rosto,
Cuja cor, tão linda e bela, iguala
Ainda teus matizes, Ticiano!

Suave à luz do sol das nove horas,
Flóreo bosque que não teme a chuva,
E que a pluma em maciez suplanta,
Às nuvens igualando sem escoras.

As mechas duas caem sobre a testa,
Preso ao alto, uns fios restam na nuca,
O Inabalável um charme assim abala,
O resisti-lo, quão difícil gesta!

E se me alongo eu em tal minúcia,
Devo isso ao gosto por detalhes;
E se a minha adoração é tanta,
É por de um beijo algum ter a fidúcia.

Enfim, buscando novos outros temas,
Baixo à testa e às sobrancelhas,
Aos olhos chego e eis que perco a fala:
Com eles encheria mil poemas!

(A primeira versão dessa poesia foi publicada na Revista Desassossego, da USP, N. 02, Seção Poesias)


SONETO II
Um Mero Melro Azul
© 2010 Wilson Filho

Quiçá o que a quem eu quero
Ceder e dar um simples melro seja:
Em forma e formosura vai um beijo mero
Nos poros da bochecha onde o seu suor goteja.

Talvez – com tino e tato itero
O dito e o dado – um melro simples seja,
Que lembre e lembrar faça aquele tempo mero,
A joia de presente que o colo seu deseja.

Pois, quando canta, a ave solitária impera
Nas escarpas: calma e bela e tão taful,
Trazendo a nossa prima Primavera.

Se acaso – indago, enfim, ao vero Vento Sul
– de mim o mimo que o seu peito espera
Seja um mero melro azul.

(Poesia publicada na Revista Crioula, n. 9, Maio de 2011, Seção Poesia, Prosas e outros Contos)


POESIAS APRESENTADAS EM EXPOSIÇÕES DE ARTE

As exposições Orixá Oxalá (2009) e Santo Antônio dos Supersticiosos (2010) apresentaram, também, poesias relacionadas aos temas, nas quais procurei trabalhar as possibilidades visuais de um texto impresso, além, claro, da integração da arte literária com a arte visual figurativa, cada uma agregando novos significados e possibilidades para interpretação da outra.


Exposição Orixá Oxalá (2009)
© 2009 Wilson Filho




Exposição Santo Antônio dos Supersticiosos (2010)
© 2010 Wilson Filho





POESIAS PUBLICADAS EM COLETÂNEAS


O Medo e a Morte e o Homem
© 2011 Wilson Filho

O Senhor Medo abriu-me a porta
Em hora morta e fez-me entrar.
“Não me tema”, assim me disse,
“O medo ao Medo é covardice,
Mor sandice é não pensar
Que em sua circunstância
Ter tal medo em tal constância
É de talhe natural.”

Fui entrando no casebre,
A fogo e febre e a suor,
Um receio a cada passo,
Impenetrável o ar tão baço,
Qual bagaço, fui menor
Que o medo que esmaga,
Que me tolhe e que estraga
Meu arranjo figadal.

Fui levado até um canto
Onde o pranto era credor.
Lá, com ares de matrona,
Em seu trono se entrona
A Dona Morte, irmã da Dor;
Que nos olha bem nas íris,
Toda xícara sem pires
Teme mais se derramar.

O Senhor Medo disse “filho,
A todo trilho há um fim,
O Destino é um pedante
Estraçalhado em dor pujante,
Qual gigante num rocim.
Não espere lenitivo,
Sempre sofre quem é vivo,
Entre a vaga e o quebra-mar.”

Neste estado eu estava,
Era assim que me sentia,
Eu sofria, indagava,
Ao Futuro inquiria;
Rumo ao nada navegava:
Grão de fava ao léu da pia.

À beira-ralo eu estava,
Era assim o diagnóstico:

Incurável como osso de cavalo,
Mas legível desde o vértice do acróstico.
Se agnóstico eu era em minha fé contrária,
Foi no óbito que eu vi, enfim, o fio da peça:

A Morte é uma criança,
É só um sopro que começa.

(Poesia publicada no livro "Emoção Repentina", coletânea do V Concurso Crônica e Literatura da Assis Editora).



Vis Questões
© 2011 Wilson Filho

O despertador diz que o dia é ouro em brasa –
Mas a cama implora e prende e mantém,
Abraçando ela me tem, outra vez, sonhador.
E assim, a manhã e a luz e o sol,
Ou a paz do colchão, do lençol?
Vil questão: vai ou vem,
Sonhador?

O sabor do café de odor frio queima a boca –
Mas o vício aflora e rende e se atém,
Sorrateiro ele me tem, outra vez, meu senhor.
E assim, tomo eu o café da manhã,
Ou espero o arroz com suã?
Vil questão: com ou sem,
Meu senhor?

Tão feliz como dor de um dente eu lavo os pratos –
Mas a mente se faz asa livre e contém,
Num segundo ela me tem, outra vez, viajor.
E assim, a esponja, o prato, o sabão,
Ou o mar no alcance da mão?
Vil questão: barco ou trem,
Viajor?

O pincel, muda voz, ouve em cor um Rembrandt venerado –
Mas a arte de antes não mais se mantém,
Em veladura ela me tem, outra vez, fruto em flor.
E assim, o empasto, o contraste, a luz,
Ou o ponto de fuga de truz?
Vil questão: mal ou bem,
Fruto em flor?

E ao fim do pôr-sol eu me lanço ao mar finalmente –
Não mais peias, grilhões, nada mais me retém,
Afogando ele me tem, outra vez, escritor.
E assim, as estrofes, o metro, o padrão,
Ou o verso a levar o timão?
Vil questão: dez ou cem,
Escritor?

O desper- / tador diz...

(Poesia premiada em 6º lugar no 2º Concurso de Crônicas e Poesias da UFU, de 2011, e publicada no livro, que é coletânea do concurso, Fragmentos do Cotidiano, Uberlândia: Edufu, 2012, pp. 101-102).